Dos R$ 137,5 bilhões previstos de investimentos do governo federal em infraestrutura este ano, apenas 12% foram aportados, segundo dados do site Contas Abertas. O valor, que foi mais voltado para grandes obras de transporte e petróleo e gás, abrange apenas grandes conglomerados de empresas, deixando de fora das corridas pequenas e médias construtoras. Na opinião de empresários e analistas ouvidos pelo DCI é chegada a hora de apoiar os investimentos em setores vitais da infraestrutura, como o rodoviário e de saneamento através de licitações em que as pequenas e médias empresas possam participar. “O País precisa investir pelo menos 5% do Produto Interno Bruto [PIB] em infraestrutura. Hoje os investimentos não passam de 0,7%”, disse Jeremias Leônidas, professor de engenharia da Universidade São Paulo (USP).
Exemplo de empresa interessada em participar de novas licitações, a Construtora Moreira Ramos atua hoje em construções públicas de menor porte. “Há perspectiva de investimentos que não saem do papel, o que frustra o empresariado. Hoje 60% dos trabalhos realizados pela nossa construtora são provenientes de licitações no Estado de Minas Gerais”, disse Marcelo Moreira, presidente da empresa.
Atualmente, o empresário trabalha com uma capacidade menor do que o porte da empresa, em função da demora de aprovação de projetos e licitações. “Quando iniciamos a empresa, nos anos 2000, nosso foco não era trabalhar com o poder público, mas depois de um tempo o governo apareceu como um cliente em potencial. O problema é que trabalhar com o governo como patrão às vezes é mais burocrático e oneroso”, disse.
A empresa que espera faturar R$ 100 milhões este ano está com quatro projetos de construção de escolas na região da Grande Belo Horizonte, além de participar de licitações para outros equipamentos públicos, como hospitais e obras viárias. “Ainda podemos aumentar em até 30% o número de projetos com a estrutura que temos. O problema são os entraves municipais para uma licitação de porte médio”, disse.
No primeiro trimestre, o PIB chegou a R$ 1,11 trilhão, incremento de 0,6% na comparação com o último trimestre e 1,9% na base comparativa com os três primeiros meses de 2012. O valor, no entanto, foi puxado pela alta do agronegócio, que registrou crescimento de 17% no período. “Seria necessário aportes de mais de R$ 5,5 bilhões no primeiro trimestre em infraestrutura para que o resultado comece a ser visto no médio e longo prazo” argumenta Leônidas.
Os dados do IBGE também apontaram que a movimentação financeira da indústria de janeiro à março foi de R$ 230 bilhões, valor considerado baixo para Paulo Fleury, CEO do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). “O Brasil hoje conta com um problema grave. Depois de vinte anos sem os investimentos necessários em infraestrutura, há um gap a ser coberto e, além disso, precisamos criar condições para assegurar o crescimento econômico. É muito importante investir de 4% a 5% do PIB por ano, por ao menos cinco anos, sendo que, atualmente, os recursos destinados a essa área representam 0,5% do PIB, podendo atingir 0,7% com o Programa de Aceleração do Crescimento 2 [PAC II]”, afirmou.
Segundo Afonso Mamede, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), a cadeia a indústria da construção civil apresenta retorno rápido para a economia, caracterizando um bom investimento. “Todos os setores da economia demandam produtos da construção. Em razão disso, o setor é um dos principais componentes do investimento do País. Além disso, estudos da LCA Consultoria e do IBGE apontam que para cada R$ 1,00 aplicado na construção, são gerados R$ 1,88 na economia como um todo, bem como a cada R$ 1 milhão produzidos na construção gera 70 empregos na economia”, explicou o executivo.
Da mesma opinião partilha o professor de macro economia e política econômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Edson Nortenha. “Há um consenso entre especialistas e executivos sobre essa tendência. Apoiar o desenvolvimento do PIB em consumo interno, como vem sendo feito, gerará um esgotamento, como já é notado. É preciso que se invista pelo menos 5% do valor do PIB em melhorias em infraestrutura para que o País siga competitivo em médio e longo prazo”, detalhou.
Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema, explica ainda que hoje o Brasil conta com 8.500 projetos de obras em andamento. Sendo que 46% do setor de óleo e gás, 25% transporte, 14% energia, 10% indústria, 2% saneamento, 2% infraestrutura esportiva e 1% em infraestrutura. “Até 2017, o volume de investimento é de R$ 1,6 trilhão em obras em execução, planejadas e com intenção de realização. Deste valor R$ 423 bilhão referem-se as obras já encerradas”, disse.
Segundo um levantamento do Contas Abertas, de janeiro a abril, apenas 12% dos investimentos previstos pela União para infraestrutura no País aconteceram. Segundo o levantamento, dos R$ 137,5 bilhões anunciado para 2013, apenas R$ 16,5 bilhões foram repassados.
O estudo, que levou em conta dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, mostrou que o setor que mais receberia aportes era o de energia, com R$ 96,9 bilhões, destes, apenas R$ 12,8 foram aplicados.
Em segundo lugar com mais aporte estava o segmento de “Transportes” é o que deve aplicar o segundo maior montante de recursos este ano. Ao todo, R$ 27 bilhões devem ser investidos, dos quais R$ 3,5 milhões serão provenientes das estatais e R$ 23,5 bilhões da União. Desse total, R$ 13,2 bilhões devem ser destinados ao transporte rodoviário, R$ 1,9 bilhão ao rodoviário, R$ 806,5 milhões, ao “hidroviário” e R$ 640,3 milhões, ao aéreo. Até o momento, R$ 2,4 bilhões foram desembolsados (9%).
A função de “Comunicações”, que prevê recursos para áreas importantes nos próximos anos, como tecnologia da informação e telecomunicações, deverá investir R$ 1,7 bilhão em 2013. Do total, R$ 1,4 bilhão proveniente das estatais e R$ 330,8 milhões da União. Até o momento, apenas R$ 78 milhões foram aplicados.
O levantamento do Contas Abertas também levou em consideração as aplicações que serão realizadas nas funções “Urbanismo”, “Habitação”, “Saneamento”, que juntas devem receber aplicações da ordem de R$ 14,6 bilhões este ano. Entre as principais iniciativas dessas funções estão os investimentos em infraestrutura urbana, habitação e saneamento.
Fonte: CBIC