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Brasil precisa de US$ 500 bilhões para zerar déficit de infraestrutura

No dia em que foi anunciado a queda de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o SindusCon-SP divulgou um estudo inédito que apontou os caminhos para a atração de capital estrangeiro para investimentos em infraestrutura no Brasil. Os resultados foram apresentados no evento “Oportunidades de investimento privado em infraestrutura – Uma saída para a crise – Iniciativas de articulação para a retomada do crescimento”, realizado em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com o estudo, a situação exige que se faça uma opção pela atração rápida de capitais externos para o segmento de infraestrutura. Nesse contexto, a atuação do setor privado é vital na busca de maior eficiência na gestão dos projetos.

Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, o Brasil não pode ficar mergulhado indefinidamente na recessão. “É na expansão da infraestrutura que estão as maiores oportunidades para o país voltar a crescer de forma sustentada. Precisamos agir urgentemente para que estas oportunidades efetivamente se concretizem.”

Em 2014 os investimentos em infraestrutura foram de R$ 130,9 bilhões. Estima-se que em 2015 venham a se contrair para R$ 106,4 bilhões, queda de 19% em termos nominais. A lacuna de investimentos no setor de infraestrutura é da ordem de US$ 500 bilhões.

A demanda do país por obras nesse segmento é grande, mas é preciso tornar o ambiente de negócios mais favorável e facilitar as decisões dos agentes econômicos. De acordo com o diretor do FGV Management, Paulo Lemos, o Brasil precisa definir uma política fiscal e segui-la a risca por vários anos. “O que foi feito no país foi criar turbulência na economia.”

O Brasil representa perto de 2,3% do PIB global. Para que o investimento em infraestrutura seja da ordem de 5,5% do PIB são necessários outros US$ 110 bi ao ano. Esses números representam 1,5% e 0,3% de todo o investimento em infraestrutura previsto para o mundo até 2030.

Para o professor da FGV, Robson Gonçalves, a crise atual é parte de opções que foram feitas no passado e acentuaram o distanciamento do país do resto do mundo. “Das 10 maiores economias do mundo, o Brasil é a única que está em recessão. Isso mostra o quão isolados estamos.” De acordo com o representante do SindusCon-SP na Fiesp, Eduardo Capobianco, o setor privado tem assumido riscos cambiais. “Como sustentar essas mudanças? A conta só aumenta.”

O estudo destaca que existe funding no mundo disponível e querendo investir no Brasil, mas faltam bons projetos. “Nós não conseguimos ter a competência necessária para atrair o capital estrangeiro. Precisamos criar imediatamente um PMO para infraestrutura”, diz Gonçalves. “O setor privado precisa contribuir para a melhoria da qualidade dos projetos do poder público.”

O sócio da GO Associados, Fernando Marcato corrobora a proposta e complementa destacando o tripé fundamental para avanços do setor. “É necessário regulação, planejamento e gestão.”

Para o presidente do conselho do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Rafael Benke, infraestrutura é classe de ativo que precisa de atenção especial. “Potencial de investimento na América Latina é grande. É preciso estruturar um ambiente regulatório para nova realidade internacional e trabalhar na mudança de cultura pública e privada.”

Atração de investimentos
Para o economista da Inter B Consultoria, Claudio Frischtak, a agenda para a atração de investimentos na atual conjuntura mundial não é diferente daquela necessária para atrair recursos domésticos, com uma diferença essencial: assimetria de informação. “O investidor externo tem dificuldade de entender as regras do jogo e ir além do véu de incerteza. Isso é particularmente relevante para fundos de pensão e investimentos de longo prazo.”

Embora ainda incipiente no Brasil, a experiência internacional aponta para a relevância do project financeem infraestrutura. As vantagens são significativas, pois o financiamento de projetos não oneram os balanços dos sponsors (ou o fazem marginalmente), e usa filtros privados para assegurar a qualidade – e desta forma o retorno – dos projetos, e sua execução tempestiva.

O vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, concluiu afirmando que a motivação do setor é construir uma modelagem que efetivamente amplie a infraestrutura e contribua para que o país volte a crescer ao longo dos próximos anos. “Nosso desafio é viabilizar esses investimentos dentro de um marco inovador.”

Fonte: Sinduscon-SP